Edição do dia 21/11/2011
21/11/2011 14h04 - Atualizado em 21/11/2011 14h04 Matéria estreia série de reportagens para comemorar a Semana da Consciência Negra. É uma homenagem do Jornal Hoje aos 96 milhões de brasileiros de origem africana.
O Ilê Ayiê foi para a avenida pela primeira vez há quase 40 anos e, até hoje, somente negros desfilam no bloco afro, o primeiro do Brasil. As músicas falam da história da África, da luta dos negros e os sons e movimentos expressam o orgulho de um povo.
Foi a beleza do bloco que mudou a forma da professora de dança Lucimar Cerqueira olhar para seu próprio corpo. Ela acompanha o Ilê desde os 12 anos e se identificou com as mulheres que aprendeu a admirar. “Quando eu cheguei aqui e pude perceber a variedade de formas, de se arrumar, aquilo me tocou e transformou assim literalmente o meu visual, a minha forma de me portar, a minha atitude perante as outras pessoas, porque eu também podia usar o meu cabelo crespo e me considerar bonita e ser bonita”, relata.
Acompanhe o Jornal Hoje também pelo twitter e pelo facebook. Lucimar, que tem 25 anos e é rainha do ilê, explica por que entrou no concurso que todos os anos escolhe uma deusa do ébano: "Eu tenho orgulho de ser negra. Eu amo a minha cultura, eu amo ter nascido assim, exatamente assim".
Para que essa geração tenha e fale com esse orgulho e firmeza é preciso começar a trabalhar cedo novos valores. É o que faz a Associação Educativa e Cultural Didá, onde as crianças aprendem muito mais do que percussão, canto, dança, teatro, capoeira. Elas aprendem que são capazes. “Quando eu vejo essa geração de cabeça erguida, bicão na diagonal e dizendo ‘eu estou aqui porque outros lutaram para eu estar aqui’, isso é fundamental. É isso que vai fazer do Brasil um país que se enxerga na sua diversidade”, diz a socióloga Vilma Reis.
Foi com essa postura que a pedagoga Ana Margarida e o dançarino Reginaldo da Silva quebraram preconceitos 27 anos atrás, quando resolveram ficar juntos. Ana era casada, mãe de três filhos e enfrentou muitos obstáculos por ter acabado um casamento e ficado com um homem negro e bailarino. “Diziam que a relação não ia dar certo, muitas pessoas da família viraram a cara, pessoas amigas se afastaram. Todo mundo achava tudo, mas a escolha era minha e dele, então foi essa escolha que decidiu e definiu a relação”, conta Ana.
O casal coleciona histórias e mais histórias de preconceito, mas sempre fez delas um motivo para ficar mais unido. Nos anos 80, Ana e Reginaldo entraram em uma sorveteria e todos os olhares se voltaram para eles – uma mulher branca e um homem negro. Foi nesse dia que Ana falou alto e assumiu para sempre sua paixão: “Quando estavam nos olhando, eu tive uma reação. Eu disse que queria um sorvete de chocolate, queria calda de chocolate, porque o que eu gosto mesmo é de negão, é de preto”.
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