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O
golpe que tirou do poder a presidenta eleita Dilma Rousseff completou um ano na
quinta-feira (31/08). Nessa data, em 2016, os senadores decidiram, por 61 votos
favoráveis a 20 contrários, afastar definitivamente a petista do cargo,
mesmo sem comprovar que ela tenha cometido crime de responsabilidade.
Em seu pronunciamento no Senado Federal,
durante depoimento no processo de impeachment, no dia 29 de agosto de 2016,
Dilma já alertava para o desastre que se verificou após o seu afastamento
definitivo. Além de denunciar o golpe contra a democracia e a Constituição,
Dilma advertiu que o que estava em questão era o futuro do País, a oportunidade
e a esperança de avançar. “O que está em jogo são ganhos da população, das
pessoas mais pobres e da classe média; a proteção às crianças; os jovens
chegando às universidades e às escolas técnicas; a valorização do salário
mínimo; os médicos atendendo a população; a realização do sonho da casa
própria”, enumerou Dilma em sua fala histórica, que também destacou as ameaças
à soberania nacional. “O que está em jogo é, também, a grande descoberta do
Brasil, o pré-sal”, disse ela.
As
previsões de Dilma estavam corretas. Desde então, a sequência de ataques contra os direitos
dos trabalhadores e os programas sociais, à indústria brasileira e à soberania
confirmaram as palavras da presidenta eleita. Um dos primeiros atos do governo ilegítimo,
ainda em 2016, foi a Emenda dos Gastos, medida que alterou a Constituição e
congelou por 20 anos os investimentos públicos na linha da inflação. Ou seja:
20 anos sem aumentos reais no orçamento. É um golpe nos serviços públicos
essenciais, sobretudo em saúde e educação, que deixam de ter os mínimos
previstos pela Constituição.
Nesse
último ano, ainda assistimos a cortes no Bolsa Família, redução do orçamento
das universidades e de programas como o Fies, a transformação do Minha Casa
Minha Vida em programa para ricos e o fechamento de farmácias que vendiam
remédios a preços populares. Também contrariando as promessas dos golpistas, o
governo anunciou uma mesquinha redução de R$ 10,00 no salário mínimo, enquanto
o desemprego atingiu cerca de 14,2 milhões de trabalhadores.
Sem
contar que, depois de décadas de conquistas, os direitos trabalhistas
retrocederam para o período anterior à CLT (Consolidação das Leis
Trabalhistas). Os dois principais pontos foram a aprovação da terceirização
irrestrita e da reforma trabalhista.
As
ameaças à soberania nacional, mencionadas por Dilma em seu discurso também se
confirmaram. Temer adotou medidas como a mudança da regra de exploração do
pré-sal de partilha para concessão, em prejuízo da Petrobras e dos interesses
nacionais. Fato seguido do anúncio da privatização da Eletrobras e da liberação
indiscriminada da venda de terras a estrangeiros, além da recente extinção da reserva
de mais de 45 mil quilômetros na Amazônia. Ao que se soma a ameaça da entrega
do Aquífero Guarani, a maior reserva de água doce do planeta.
Além
disso, em um ano, o Brasil caiu no conceito internacional, transformando-se em
motivo de chacotas na mídia estrangeira, tratado como uma “republiqueta das
bananas” pelas sucessivas gafes de seu despreparado presidente ilegítimo. Mais
do que isso, no entanto, o que desqualificou o Brasil, antes respeitado pelas
maiores autoridades mundiais, é a subordinação incondicional aos interesses
externos. O Brasil que saiu do mapa da fome é hoje um território subjugado, mas
que resiste, aos interesses do sistema financeiro internacional.
Para
piorar, o déficit fiscal aumenta e a economia não deslancha. Além disso, no mês
passado, Temer gastou cerca de R$ 14 bilhões para comprar deputados e, assim,
conseguiu se safar de uma das denúncias do procurador-geral da República
Rodrigo Janot.
Na
quinta-feira (31/08), Dilma foi a convidada de honra do evento "Brasil um
ano depois do golpe", realizado na Associação Brasileira de
Imprensa, no Rio. Organizado pelo deputado federal Wadih Damous (PT) e pelo
jornal Brasil de Fato, o ato lembrou a consumação do impeachment.
Por
uma hora e 20 minutos, Dilma discorreu sobre vários aspectos do golpe
parlamentar que derrubou seu governo. Um deles, a elite que patrocinou a derrubada
de seu governo. “Esse processo explica por que temos a mais egoísta, atrasada e
irresponsável elite”. As elites de outros países, disse, “pensaram em sua
nação, perceberam que seu destino seria maior se elas incorporassem o destino
de seu povo. No nosso caso, tivemos sempre uma imensa dificuldade de fazer os
processos mais simples de inclusão”.
Dilma
avaliou a conjuntura e afirmou que, por um lado, “eles enfrentam seríssimas
dificuldades”, mas, de outro, o golpe se desenvolve em vários “atos” e segue em
curso. Segundo ela, embora haja uma aparente divisão entre lideranças que
compartilham os espólios do poder após o impeachment, esses protagonistas do
golpe estão unidos pelos interesses que o motivaram. “Não é um golpe de um ato
só”, disse. “Tem uma cisão (entre os golpistas), mas tem também uma unidade
entre eles: unidade pela reforma da Previdência, pela reforma trabalhista, pela
entrega das terra férteis, pela entrega da Petrobras”.
Para
Dilma, apesar disso, esse grupo está “absolutamente desmoralizado” e Michel
Temer enfrenta problemas crescentes: “Eles têm de entregar o que prometeram
entregar. Mas não tem como, porque o déficit já chegou a 183 bilhões. Vão fazer
o quê? Vão aumentar imposto? É complicado. Tem o problema de legitimação
perante o mercado, e em 2018, de legitimidade diante da população”.
Outra
dificuldade para Temer e o governo, segundo Dilma, é que junto com os problemas
econômicos, os deputados e senadores do atual Congresso, que votaram pelo
impeachment e pelas reformas do governo atual, “têm uma série de defeitos, mas
não são suicidas”, lembrando que os parlamentares terão de se submeter mais uma
vez ao voto popular, no ano que vem. A não ser que haja um plano de evitar que
as eleições sejam realizadas ou fazer com que não tenham a importância que
delas se espera, sugeriu.
“O
segundo ato do golpe (2018) é complexo”, disse. De acordo com Dilma, os grupos
que controlam o governo e o Congresso tentam algumas estratégias para se manter
no poder, como implantar o parlamentarismo, que “retira as possibilidades mais
progressistas do páreo” e é uma das hipóteses. “Mas (para se implantar o
regime) precisa de plebiscito”, lembrou.
Alguns
defensores do parlamentarismo, como o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE),
advogam a tese de que não é necessária a consulta popular, mas apenas uma
proposta de emenda à Constituição para aprovar o parlamentarismo. “Pode até ter
a suspensão da eleição nesse segundo ato. O fato é que o Brasil está em grave
crise econômica, política e institucional. Tenho a impressão que estamos na
calmaria (antes) do tsunami”, avaliou a presidenta eleita.
Ao
final da sua fala, Dilma citou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva,
dizendo que ouviu dele a frase mais bonita dos últimos tempos: “solto ou preso,
condenado ou absolvido, vivo ou morto, eu participo de 2018”. Para ela, com a
frase, Lula mostra compreensão sobre o que representa 2018: “se o golpe se
reproduz ou se se contém”. Ela interpreta a “caminhada (de Lula) pelo nordeste”
como uma indicação de que “o que está em questão é o que vem depois, o que
faremos ou construiremos depois”.
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