Considerado o livro do ano, “A privataria tucana”, do jornalista Amaury Jr, abre os esgotos das privatizações no Brasil, que, para muitos, representou o caminho para a consolidação do “Brasil Moderno”.
Tese que precisa ser revista. Na época do processo da chamada, meio que cinicamente, “abertura econômica”, Fernando Henrique Cardoso, então presidente, afirmou que estaria, através das privatizações, matando o homem cordial produzido por uma sociedade patrimonialista e atrasada.
No panglossiano modelo apresentado, o dinheiro arrecadado na venda das estatais, muitas delas, de setores estratégicos, serviria para diminuir a dívida externa brasileira, além do óbvio, segundo os interessados, melhoramento dos serviços prestados por essas empresas. Qualquer problema era só falar com as agências reguladoras, que teriam amplos poderes para fazer valer os direitos do consumidor (não mais cidadão).
O tiro parece ter saído pela culatra, pois as agências reguladoras não funcionam, a dívida externa só aumentou e os serviços, além de não sofrerem mudanças substanciais na sua qualidade, ainda foram encarecidos.
É a velha piada de Leonel Brizola, respondendo a um jornalista, pouco antes de morrer, que lhe dizia que, com o ingresso da iniciativa privada – que costuma tomar iniciativa com dinheiro do BNDES e muito bem protegida pelo Estado -, todo mundo poderia ter um celular. “Todo mundo tem um celular, mas, por termos a maior tarifa do mundo, a grande maioria não pode utilizar o serviço. É como comprar um aparelho para utilizar sua calculadora, ou seus games”, afirmou o também engenheiro.
Repetindo a tese do economista Aloysio Biondi, que publicou importante estudo sobre as privatizações no Brasil, Brizola afirmou que a venda das estatais envolveram gastos maciços com a modernização tecnológica das organizações, demissões (enxugamento) e aumento das tarifas, tudo antes de vendê-las – bancado pelo Estado – para tornar a “relação comercial atrativa”.
As estatais da área de telecomunicações, por exemplo, não foram modernizadas pelas empresas privadas. É uma grande falácia. Antes de entregar para os conglomerados que as adquiriram, o Estado reequipou os respectivos parques industriais, demitiu o “excesso” de pessoal, arcando com as dívidas trabalhistas, vendeu a um preço de banana, sendo que, para terminar de completar, ainda emprestou o montante de capital, através do BNDES, para que os conglomerados assumissem o controle acionário delas.
Era muita bondade para um governo só. Algo faltava ser contado. O livro do jornalista Amaury Jr vem justamente mostrar o que havia por trás de tamanho despreendimento.
O livro já é um total sucesso. Só não se sabe ainda se já foram vendidas mais cópias da obra, ou caixas de Lexotan. A disputa é grande.
FONTE: http://www.cartapotiguar.com.br/?p=16040
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