quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Pesquisa pioneira sobre intolerância religiosa recebe prêmio de Direitos Humanos

Flávia Pinto recebeu a premiação das mãos da presidenta Dilma Rousseff.
(arte Ricardo Weg / PT)

Presidenta Dilma entrega prêmio à socióloga Flávia Pinto, coordenadora de trabalho sobre preconceito contra casas de umbanda e candomblé

O trabalho inédito sobre intolerância religiosa da socióloga Flávia Pinto ganhou reconhecimento na edição deste ano do Prêmio de Direitos Humanos oferecido pela Presidência da República. Flávia recebeu o prêmio que inaugura a categoria “diversidade religiosa” pela pesquisa que desenvolve na PUC do Rio de Janeiro, fazendo um levantamento dos casos de preconceito e violência contra os terreiros de umbanda e candomblé. 

“Essas Casas não são equiparadas com as outras tradições religiosas, que usufruem dos direitos constitucionais previstos para todos os credos religiosos”, explica a socióloga, que relata ainda que a intolerância contra esses espaços se manifesta inclusive com violência – como casos em que terreiros foram metralhados ou incendiados. 

O trabalho contou com a participação de 20 pesquisadores de campo. A previsão é que os trabalhos finais sejam apresentados em março de 2012 e resulte também em um livro com um mapa dos terreiros no Rio de Janeiro, dos quais 900 já foram registrados. “Tivemos o cuidado de preparar resultados científicos, válidos para promover políticas públicas para combater o preconceito e fortalecer as ações sociais dentro dos terreiros”, ressalta Flávia que também é Babá de Umbanda (denominação das sacerdotisas da religião) no terreiro “A Casa do Perdão”, no capital carioca.

Militância nasceu nos terreiros que desenvolvem projetos sociais

Flávia Pinto conta que começou a militância na área de Direitos Humanos a partir do engajamento em projetos sociais desenvolvidos pela Casa do Perdão da comunidade Vila Vintém. Segundo ela, “60% dos terreiros desenvolvem trabalhos sociais e assistenciais”, afirma a pesquisadora que tem como propósito promover a cidadania dentro dos terreiros.

“A partir do momento que nós começamos a nos afirmar, o Estado percebe que o ‘desenho’ do que é chamado de maioria religiosa não é bem assim. Na verdade existe um segmento que ainda está sem voz”, pondera Flávia. “Temos orgulho de ter uma religião genuinamente brasileira”, diz a pesquisadora, que ressalta a origem brasileira da Umbanda, fundada no dia 15 de novembro de 1908, em Niterói.
(Jamila Gontijo – Portal do PT)

Leia abaixo alguns dos principais trechos da entrevista.

“Quando fomos buscar estes direitos, nós percebemos que as casas de religiões de matriz africana, Casas de Umbanda e Candomblé, elas não são equiparadas com as outras tradições religiosas, que usufruem mais dos direitos constitucionais, previsto para todos os credos religiosos, e então, nós começamos a primeiro a buscar e depois promover a conscientização da importância da legalização dos terreiros, para que estes pudessem ser protagonistas das suas interlocuções políticas, das suas articulações com o Estado”.

“Esse preconceito vinha até então, de forma velada, a pesquisa de mapeamento, temos um grupo de 20 pesquisadores em campo, indo de porta em porta, dos terreiros, como o IBGE faz, uma espécie de censo, e perguntando entre outras coisas, se a casa já sofreu algum caso de intolerância religiosa”. – e revela: “alguns pais de santo, mães de santo, relataram para nós, que esta foi uma das primeiras oportunidades de falar de caso de intolerância que sofreram, alguns foram ameaçados de morte, tem terreiro metralhado, terreiro que foi ateado fogo, terreiro que foi invadido com carro”.

“Ela nasceu da mistura multicultural, religiosa também dos índios, dos negros, do catolicismo, e do Kardecismo, então, este caldeirão formou a Umbanda, ela foi fundada pelo Caboclo das Sete Encruzilhadas, através do médium Zélio de Moraes em 15 de novembro de 1908, e nós temos orgulho de ter uma religião brasileira”.

“Para que tivesse validade cientifica, para os resultados fossem válidos para promover políticas públicas que visem combater essas ações de preconceito, e visem também potencializar estes trabalhos sociais feitos nos terreiros”.

“A partir do momento que nós começamos a nos afirmar e reafirmar o Estado vai percebendo que este desenho do que é chamado maioria religiosa, não é tão bem assim, na verdade existe um outro seguimento, muito grande também, mas que ainda está sem voz, e eu acho que este premio abre portas para isso, e a militância nossa continua justamente na construção destes direitos”. 

“É um primeiro passo que a gente dá numa instancia em esfera nacional, muitos são os estados que também tem este tipo de intolerância, e a gente vai continuar fazendo todos os aportes políticos, para que a gente consiga promover a cidadania dentro dos terreiros”.

Para maiores informações o site da Casa do Perdão é: www.casadoperdao.com.br.

Assista à entrevista de Flávia Pinto à TVPT
http://www.pt.org.br/index.php?/noticias/view/pesquisa_pioneira_sobre_intolerancia_religiosa_recebe_premio_de_direitos_hu

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