A
história da suposta propina paga ao senador José Agripino, presidente
nacional do DEM, veio à tona, primeiro, com o depoimento de Gilmar da
Montana ao Ministério Público, em 24 de novembro de 2011, logo após ser
preso durante a Operação Sinal Fechado. O dinheiro, segundo o
empresário, teria sido entregue ao líder democrata e ao marido da
governadora Rosalba Ciarlini (DEM), Carlos Augusto Rosado, recém
nomeador pela mulher como novo Chefe do Gabinete Civil do RN. Com a
revelação do depoimento de Alcides Barbosa, vai se fechando o cerco
contra Jajá.
Há pouco mais de um mês, em 2 de abril, um grupo de seis jovens
promotores de Justiça do Ministério Público do Rio Grande do Norte
organizou uma sessão secreta para ouvir um lobista de São José do Rio
Preto (SP), Alcides Fernandes Barbosa, ansioso por um acordo que o
tirasse da cadeia. Ele foi preso com outras nove pessoas, em 24 de
novembro de 2011, durante a Operação Sinal Fechado, que teve como alvo a
atuação do Consórcio Inspar, montado por empresários e políticos
locais com a intenção de dominar o serviço de inspeção veicular no
estado por 20 anos. A quadrilha pretendia faturar cerca de 1 bilhão de
reais com o negócio. Revelado, agora, em primeira mão, por Carta Capital,
o depoimento de Barbosa aponta a participação do senador Agripino Maia,
presidente do DEM, acusado de receber 1 milhão de reais do esquema.
O depoimento de Barbosa durou 11 horas e reforçou muitas das teses
levantadas pelos promotores sobre a participação de políticos no bando
montado pelo advogado George Olímpio, apontado como líder da quadrilha,
ainda hoje preso em Natal. De acordo com trechos da delação, gravada em
vídeo, Barbosa afirma ter sido chamado, no fim de 2010, para um coquetel
na casa do senador Agripino Maia, segundo disse aos promotores, para
conhecer pessoalmente o presidente do DEM. O convite foi feito por João
Faustino Neto, ex-deputado, ex-senador e atual suplente de Agripino Maia
no Senado Federal. Segundo o lobista, ele só foi chamado ao encontro
por conta da ausência inesperada de outros dois paulistas, um
identificado por ele como o atual senador Aloysio Nunes Ferreira
(PSDB-SP) e o outro apenas como “Clóvis” – provavelmente, de acordo com o
MP, o também tucano Clóvis Carvalho, ex-ministro da Casa Civil do
governo Fernando Henrique Cardoso.
Apontado como um dos principais articuladores do esquema criminoso no
estado, Faustino Neto foi subchefe da Casa Civil do governo de São
Paulo durante a gestão do tucano José Serra. Na época, era subordinado a
Aloysio Nunes Ferreira.
De acordo com os promotores, o papel de Barbosa na quadrilha era
evitar que a Controlar, uma empresa com contratos na prefeitura de São
Paulo, participasse da licitação que resultou na escolha do Consórcio
Inspar. Em conversas telefônicas interceptadas com autorização da
Justiça potiguar, Barbosa revela ter ligado para o prefeito Gilberto
Kassab (PSD), em 25 de maio de 2011, quando se identificou como
responsável pela concessão da inspeção veicular no Rio Grande do Norte.
Aos interlocutores, o lobista garantiu ter falado com o prefeito
paulistano e conseguido evitar a entrada da Controlar na concorrência
aberta pelo Detran local. Em um dos telefonemas, afirma ter tido uma
conversa “muito boa”. Embora não se saiba o que isso significa
exatamente, os promotores desconfiam das razões desse êxito. Apenas em
propinas, o MP calcula que a quadrilha gastou nos últimos dois anos,
cerca de 3,5 milhões de reais.
Aos promotores, Alcides Barbosa revelou que foi levado ao “sótão” do
apartamento do senador Agripino Maia, em Natal, onde garante ter
presenciado o advogado Olímpio negociar com o senador apoio financeiro à
campanha de 2010. Na presença de Faustino Neto e Barbosa, diz o
lobista, George prometeu 1 milhão de reais para o presidente do DEM. O
pagamento, segundo o combinado, seria feito em quatro cheques do Banco
do Brasil, cada qual no valor de 250 mil reais, a ficarem sob a guarda
de um homem de confiança de Agripino Maia, o ex-senador José Bezerra
Júnior, conhecido por “Ximbica”. De acordo com Barbosa, Agripino Maia
queria o dinheiro na hora, mas Olímpio afirmou que só poderia iniciar o
pagamento das parcelas a partir de janeiro de 2012.
O depoimento reforça um outro, do empreiteiro potiguar José Gilmar de
Carvalho Lopes, dono da construtora Montana e, por isso mesmo,
conhecido por Gilmar da Montana. Preso em novembro de 2011, o
empreiteiro prestou depoimento ao Ministério Público e revelou que o tal
repasse de 1 milhão de reais de Olímpio para Agripino Maia era “fruto
do desvio de recursos públicos” do Detran do Rio Grande do Norte. O
empresário contou história semelhante à de Barbosa. Segundo ele, Olímpio
deu o dinheiro “de forma parcelada” na campanha eleitoral de 2010 a
Carlos Augusto Rosado, marido da governadora Rosalba Ciarlini (DEM), e
para o senador Agripino Maia. E mais: a doação foi acertada “no sótão do
apartamento de José Agripino Maia em Morro Branco (bairro nobre de
Natal)”.
Com base em ambos os depoimentos, o Ministério Público do Rio Grande
do Norte decidiu encaminhar o assunto à Procuradoria Geral da República,
pelo fato de Agripino Maia e ser senador da República, tem direito a
foro privilegiado. Lá, o procurador-geral Roberto Gurgel irá decidir se
uma investigação será aberta ou não.
Procurado por Carta Capital, o senador
Agripino Maia negou todas as acusações. Afirma que nunca houve o
referido coquetel no apartamento dele, muito menos repasse de 1 milhão
de reais das mãos da quadrilha para sua campanha eleitoral, em 2010.
Negou até possuir um sótão em casa. “Sótão é aquela coisinha que a gente
sobe por uma escadinha. No meu apartamento eu tenho é uma cobertura”,
explicou. Agripino Maia afirma ser vítima de uma armação de adversários
políticos e se apóia em outro depoimento de Gilmar da Montana, onde ela
nega ter participado do coquetel na casa do senador.
De fato, dias depois de o depoimento do empreiteiro ter vazado na
mídia, no final de março passado, o advogado José Luiz Carlos de Lima,
contratado posteriormente à prisão de Gilmar da Montana, apareceu com
outra versão. Segundo Lima, houve “distorções” das declarações do
empresário. De acordo com o advogado, o depoimento de Montana, prestado a
dois promotores e uma advogada dentro do Ministério Público, ocorreu em
condições “de absoluto estresse emocional e debilidade física” do
acusado, que estaria sob efeito de remédios tranquilizantes. No MP
potiguar, a versão não é levada a sério.
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