Foto Mário Agra
Companheiros e companheiras:
A história da reconstrução da democracia no Brasil, no final do
século XX, é inseparável da construção do Partido dos Trabalhadores.
Atravessamos mais de três décadas sob o fogo cerrado daqueles setores
sociais e seus instrumentos de intervenção política que se constituíram
ou prosperaram à sombra da ditadura que oprimiu o país por vinte e um
anos.
Quando bombardeiam o PT com sua pesada artilharia, buscam alvejar o
sistema político democrático que a sociedade brasileira arduamente
construiu a partir das lutas sociais lideradas pelos trabalhadores
nesses quarenta anos.
O PT emergiu das lutas sociais dos anos 70 e se converteu na mais
expressiva força política de defesa das aspirações populares.
Estabeleceu uma profunda identidade com os sonhos e esperanças das
camadas mais pobres da sociedade brasileira. E quando assumiu governos
em todas as instâncias: nas prefeituras, nos governos estaduais e à
frente do país, a partir de 2003, com a vitória do presidente Lula,
honrou seus compromissos de combater as criminosas desigualdades sociais
e regionais herdadas de 500 anos de pilhagem e privilégios; de
aprofundar a democracia e fazer dela uma realidade no quotidiano de
nossa gente.
O que está em causa neste momento da vida do PT e do Brasil é a continuidade do processo que desatamos com a posse do presidente Lula em janeiro de 2003 e prossegue liderado pela presidenta Dilma Rousseff que conferiu a estatura que nos corresponde no cenário internacional; de ampliar as conquistas da cidadania às classes populares; de reacender a esperança no coração de milhões de brasileiros.
Incapazes de deter por meios democráticos o processo de transformação da sociedade brasileira, buscam desmoralizar os instrumentos dessa transformação - os partidos - e dessa forma criminalizar a política. O PT se tornou o pesadelo dos conservadores porque está destruindo o sonho acalentado por eles durante séculos: o sonho de uma democracia sem povo.
O que está em causa neste momento da vida do PT e do Brasil é a continuidade do processo que desatamos com a posse do presidente Lula em janeiro de 2003 e prossegue liderado pela presidenta Dilma Rousseff que conferiu a estatura que nos corresponde no cenário internacional; de ampliar as conquistas da cidadania às classes populares; de reacender a esperança no coração de milhões de brasileiros.
Incapazes de deter por meios democráticos o processo de transformação da sociedade brasileira, buscam desmoralizar os instrumentos dessa transformação - os partidos - e dessa forma criminalizar a política. O PT se tornou o pesadelo dos conservadores porque está destruindo o sonho acalentado por eles durante séculos: o sonho de uma democracia sem povo.
Não nos combatem pelo que temos em comum com eles. Nos combatem pelo
que trouxemos de novo, de inédito, de ousado, de generoso. Nos combatem
porque trouxemos Lula, o operário - criador e criatura do Partido dos
Trabalhadores -, nos combatem porque trouxemos Dilma Rousseff, a mulher
militante que sobreviveu ao cárcere, à tortura, às infâmias e se fez
porta-bandeira da esperança de nosso povo.
Nos combatem porque resultamos da invencível determinação de
sucessivas gerações de militantes, capazes de renovar as instituições do
país e de renovar-se a si mesma incorporando as novas dimensões das
utopias contemporâneas que nos movem para convertê-las no dia-a-dia de
milhões de brasileiros e brasileiras.
O V Congresso (cuja convocatória inaugura os debates de agora até
fevereiro de 2014) será o momento de recobrar em nossa voz - na voz da
militância -, a voz dos que não puderam palmilhar a contraditória manhã
que acendemos no coração da tempestade, nos olhos de nossa população… E
com o vasto coro dos filhos da margem responder “pela voz do peão que
ecoa a força dos séculos” aos que sempre nos desejaram o pelourinho, o
sal, a cinza, a morte: trinta e três anos depois, “para nascer,
nascemos…”
Em 1º. de janeiro de 2013, o Brasil vai comemorar o 10º. aniversário da instalação no Brasil de um governo liderado pelo Partido dos Trabalhadores. O Partido dos Trabalhadores esteve à frente da grande transformação que o Brasil passou a viver nesse período, primeiro com Luiz Inácio Lula da Silva na Presidência e, mais recentemente, com Dilma Rousseff, como sua sucessora. As mudanças desse decênio devolveram o crescimento a um país estagnado nas duas últimas décadas do século XX. Mais que isso, elas recuperaram a auto-estima do povo brasileiro.
Em 1º. de janeiro de 2013, o Brasil vai comemorar o 10º. aniversário da instalação no Brasil de um governo liderado pelo Partido dos Trabalhadores. O Partido dos Trabalhadores esteve à frente da grande transformação que o Brasil passou a viver nesse período, primeiro com Luiz Inácio Lula da Silva na Presidência e, mais recentemente, com Dilma Rousseff, como sua sucessora. As mudanças desse decênio devolveram o crescimento a um país estagnado nas duas últimas décadas do século XX. Mais que isso, elas recuperaram a auto-estima do povo brasileiro.
A expansão da economia combinou-se, pela primeira vez em nossa
história, com a criação de 18 milhões de empregos formais, com o aumento
da renda dos trabalhadores, com um forte processo de inclusão social,
que atacou a pobreza e as desigualdades. A inflação foi controlada e
diminuída a relação da dívida interna e PIB. O Brasil diminuiu
consideravelmente sua vulnerabilidade externa, acumulou cerca de 400
bilhões de dólares de reservas e deixou a condição de eterno devedor
para passar hoje a credor do Fundo Monetário Internacional. Essas
profundas mudanças projetaram nosso país globalmente, em um mundo
marcado por intensas transformações econômicas, sociais, políticas e
culturais e, nos últimos anos, pela incerteza em relação ao futuro da
humanidade. Nossa política externa permitiu fortalecer as relações do
Brasil com a América do Sul e com o resto da América Latina e o Caribe.
Aproximamo-nos da África, do mundo árabe e dos países do Sul. No BRICS,
no IBAS, no G20 e na ONU, defendemos profundas mudanças na ordem
econômica, social e política internacional. Defendemos também os
Direitos Humanos, o multilateralismo, a preservação do meio ambiente e a
solução pacífica dos conflitos internacionais. Toda essa mudança deu-se
em um quadro de aprofundamento da democracia e com crescente
participação popular.
Mas um partido comprometido com a transformação socialista e
democrática da sociedade brasileira, sem descuidar das importantes
tarefas que lhe são impostas pela conjuntura, deve erguer o olhar, mais
além do cotidiano, e ocupar-se também dos problemas de dimensão
estratégica que tem pela frente; aqueles de cujo enfrentamento depende o
futuro do país. Trinta e três anos após sua fundação e passados dez
anos do início do Governo Lula, o PT vive um desses momentos. Nosso
partido tem uma dupla e complexa tarefa: apoiar os Governos que ajudou a
eleger, mantendo sobre eles uma permanente e generosa vigilância
crítica; e atuar na sociedade para alterar a correlação de forças, para
tornar possível avançar em direção aos nossos objetivos históricos e
estratégicos. O exercício dessas duas tarefas nos impõe uma reflexão
que reconstitua nossa trajetória e projete um caminho de transformações
para o futuro. É chegada, assim, a hora de convocar um novo Congresso – o
Quinto Congresso do Partido dos Trabalhadores para fevereiro de 2014,
ano no qual disputaremos, uma vez mais, a Presidência da República, as
eleições para a Câmara, Senado, Governos e Assembléias estaduais. Mas,
para vencer esses pleitos, teremos de disputar também os corações e as
mentes dos brasileiros. Teremos de apontar para o futuro.
O PT não foi capaz, até agora, de construir plenamente uma narrativa
sobre o período histórico que se iniciou em 2003 e se estende até hoje.
Essa lacuna, que se explica pelas muitas tarefas que nos ocuparam nesses
anos, tem conseqüências. A ausência de um balanço aprofundado de nossa
experiência de Governo e de nossa presença na sociedade dificulta a
construção e continuidade de nosso projeto político. Esse vazio abre
espaço para tentativas de desconstrução de nossa obra governamental e de
nossas políticas. Em vários momentos, inclusive no atual, setores da
oposição buscam desqualificar o PT, seus dirigentes e nosso governo. Os
partidos tradicionais de oposição – em aberta crise, por falta de
propostas alternativas – são substituídos por meios de comunicação,
corporações ou grupos incrustados em setores do aparelho de Estado.
A economia, a política e a sociedade brasileiras mudaram muito nesta
década, em grande medida como decorrência das transformações que o PT,
seus aliados e o Governo impulsionaram. O simples fato de havermos
retirado da pobreza mais de 40 milhões de homens e mulheres tem enormes
implicações. Mas a formação de novas classes ou segmentos sociais não é
expressão única da incorporação de novos setores aos mercados de
trabalho e, principalmente, ao de consumo. Uma classe social não se
define apenas, nem principalmente, por sua capacidade de consumir
produtos que antes lhes eram inacessíveis. As classes sociais não se
encaixam no abecedário no qual são segmentadas nas pesquisas de mercado
e/ou eleitorais – A,B,C ou D. A mobilidade social que experimentamos
implica também mudanças de valores, demandas imateriais, em exigências
novas em relação àquelas do passado, sobretudo em uma sociedade que
passa por acelerada transformação como a brasileira. Os principais
beneficiários das transformações ocorridas no país somente se
identificarão com as forças políticas que as produziram a partir da ação
coletiva e da compreensão partidária deste fenômeno. Diferentemente de
uma visão economicista vulgar, a consciência de classe se constrói. Não
entender isso pode significar que os principais beneficiários das
transformações ocorridas no país não sejam capazes de reconhecer-se e
identificar-se com as forças políticas que produziram essas mudanças.
Diferentemente de uma visão economicista vulgar, a consciência de
classe se constrói também – e talvez, sobretudo – no entrechoque de
culturas e de idéias e na ação coletiva. Hoje, as idéias e a cultura
dominantes expressam ainda, e predominantemente, os valores dos que até
agora controlaram o Estado, os meios de comunicação e todos os aparelhos
vinculados à produção e à reprodução da cultura. A reflexão sobre esses
temas pelo PT, mais do que um exercício intelectual necessário, é uma
exigência política inadiável.
A grande transformação realizada não pode ocultar a existência de uma
volumosa agenda de mudanças pendentes: sociais, econômicas,
político-institucionais, culturais. Apesar dos avanços alcançados, ainda
persistem desigualdades sociais, bolsões de miséria e expressivos
setores da população que ainda vivem na pobreza. A exclusão não se
expressa apenas em termos de renda. Tem outras manifestações
importantes: baixos níveis de educação; deficiente formação para o mundo
do trabalho; precárias condições ambientais, de habitação, de
saneamento, de mobilidade urbana e de acesso à saúde; baixa proteção em
relação às manifestações de violência do crime organizado, das polícias
ou de expressões domésticas, como aquelas que se exercem cotidianamente
contra as mulheres, os negros, os jovens, os homossexuais ou os presos. A
exclusão também se manifesta, muitas vezes, pela recusa, quando não
pela criminalização da política. Muito foi feito nestes dez anos, mas
ainda é insuficiente. Por isso, faremos avançar mais.
Uma das particularidades da sociedade brasileira, apontada e
criticada pelos grandes pensadores que se dedicaram a analisar nossa
formação social, é a de termos realizado as grandes transformações
econômicas, sociais e políticas de nossa história por meio da
conciliação. A Independência não foi resultado de um processo de
libertação nacional, como no resto da América Latina, mas do acordo com a
metrópole colonial. O fim da escravidão, apesar das revoltas negras e
do Abolicionismo, resultou de um ato tardio da Coroa, que deveria ter
ocorrido muitas décadas antes. O advento da República não configurou uma
ruptura significativa na sociedade. A partir de 1930, a despeito das
profundas mudanças processadas na era Vargas, foram preservados os
interesses do latifúndio. O fim da ditadura, nos anos 80, não decorreu
das reclamadas eleições diretas pela sociedade, mas de um acordo entre a
maioria da oposição e segmentos que haviam dado sustentação ao regime
militar. Alguns procuraram ver, também, no período pós-2003 a
persistência desse viés conciliador. Creditaram o êxito do Governo Lula à
sua capacidade de incluir milhões de pobres e miseráveis, proteger e
expandir o emprego e a renda dos trabalhadores, mas, ao mesmo tempo, de
beneficiar o capital financeiro, o agronegócio e os monopólios da mídia,
além dos grupos do capital produtivo. No plano político-institucional,
como expressão das distorções do sistema político, impôs-se a
constituição de um bloco mais amplo de partidos - de esquerda e de
centro – para dar sustentação parlamentar ao Governo. Essa percepção
pode encobrir, no entanto, questões cruciais. A expansão da renda dos
trabalhadores e a inclusão de dezenas de milhões de homens e mulheres ao
mercado de bens de consumo de massas, embora não tenham estimulado o
desenvolvimento sem ameaçar o capitalismo, sofreu e sofre uma oposição
brutal de setores das classes dominantes. Oposição que recrudesceu,
sobretudo quando sobreveio a crise global. A verdade é que os donos do
poder não aceitam essa irrupção de pobres na vida social e política do
país.
Certamente também porque temem as reformas estruturais, como a
tributária, agrária e política. O êxito de um nordestino, sem educação
formal, como Presidente da República e sua gravitação internacional era
inaceitável para setores da sociedade que se acostumaram a dirigi-la a
partir de seus preconceitos e segundo suas normas hierárquicas. Era
plenamente “normal” que o poder fosse exercido por doutores, banqueiros,
grandes proprietários. Passou a ser “intolerável” que sindicalistas,
dirigentes de movimentos populares, intelectuais críticos pudessem
participar da condução da República, vencendo três vezes a Presidência
da República, duas com Lula e uma com Dilma, a primeira mulher a dirigir
a República no Brasil.
A história do século XX e dos primeiros anos deste século mostra como
as classes dominantes e seus aparelhos reagem contra governos que vão
na contramão de seus interesses particulares. Vargas suicidou-se para
deter insidiosa campanha de forças políticas, meios de comunicação e
outros agentes inconformados com sua política nacionalista e de
fortalecimento do Estado. Dez anos depois, por razões semelhantes, esses
mesmos atores se reuniriam para derrubar o Governo João Goulart e impor
vinte anos de ditadura ao país. No período que antecedeu as eleições de
2002 desencadeou-se uma campanha de medo com o objetivo de impedir a
eleição de Lula para a Presidência. A partir de 2003, de forma
intermitente, tratou-se de anular os notórios êxitos do Governo, com
campanhas que procuravam ou desconstruir as realizações do Governo Lula
(o que havia de bom era apresentado apenas como o resultado da herança
de FHC) ou tachá-lo de “incapaz” e “corrupto”. Sabe-se que denúncias
sobre corrupção sempre foram utilizadas pelos conservadores no Brasil
para desestabilizar governos populares, como os já citados casos de
Vargas e Goulart. Grandes episódios de corrupção – a votação da emenda
da reeleição de FHC, os turvos processos de privatização nos anos 90 ou o
Governo Collor, para só citar alguns exemplos notórios – nunca
mereceram uma investigação que levasse seus responsáveis à punição pela
Justiça. Essa constatação não pode, no entanto, eludir o tema da
corrupção de nossas preocupações. O repúdio ético e moral que esse
fenômeno provoca tem de incitar, porém uma reflexão mais abrangente. A
corrupção vence onde persiste um Estado vulnerável a pressões de grupos e
corporações e onde o sistema político não permite a clara expressão da
vontade popular. Onde a República é fraca. Nos últimos dez anos, as
denúncias de malfeitos no Brasil se viram beneficiadas pela absoluta
liberdade de imprensa reinante, pelo funcionamento livre e independente
dos poderes da República, em particular pela ação de organismos do
Executivo como o Tribunal de Contas da União, a Controladoria Geral da
República, a Procuradoria Geral da República e a Polícia Federal, todos
eles revalorizados, funcional e materialmente, pelos nossos governos.
O PT reafirma seus compromissos com a ética na política e com o
combate à corrupção e redobra seus mecanismos internos de vigilância
contra os malfeitos. Mas não devemos esquecer jamais o que esteve e está
efetivamente em jogo nestes anos. A política econômica dos Governos
Lula e Dilma atacou a principal mazela da sociedade brasileira – a
desigualdade. Com isso mostrou a relação indissolúvel entre democracia
política e democracia econômica e social. A desigualdade não era apenas
uma perversão de nosso sistema social, mas um mecanismo de dominação
política que se revelou “eficaz” para as classes dominantes por séculos.
Por isso, é tão importante a plena realização da reforma agrária, capaz
de atingir um dos pilares da desigualdade. O combate à desigualdade
fere estrategicamente interesses de grupos minoritários, mas poderosos.
Da mesma forma, o fortalecimento do papel econômico do Estado, a redução
dos lucros escorchantes do capital financeiro ou o enfrentamento de
grandes grupos do setor energético, para só citar algumas medidas,
provocam resistências naqueles grupos que exerceram o poder até bem
pouco tempo sem grandes restrições. O fato de que essa transformação se
dê nos marcos legais, com aprofundamento da democracia, com preservação e
expansão das liberdades públicas incluindo a demanda por mais direitos e
reformas do Estado e da política, deixa setores da oposição em uma
situação cada vez mais desesperada.
É chegada a hora de construir uma narrativa que reconstitua e
problematize estes dez anos de mudança e identificar os grandes desafios
que temos pela frente para poder traçar um caminho futuro. Questões
imprescindíveis desse debate são a explicitação de uma estratégia
econômica que nos permita acelerar nosso crescimento e aprofundar as
mudanças em meio a uma das mais graves crises da economia mundial dos
últimos cem anos. Essa estratégia deve dar sustentabilidade econômica,
social e ambiental a nosso desenvolvimento propiciando uma
competitividade fundada na ciência, tecnologia e inovação e na expansão
das conquistas sociais. O crescimento acelerado da economia é
fundamental para assegurar um efetivo processo de inclusão social, por
meio da construção de uma sociedade de bem-estar onde sejam garantidas a
todos educação e saúde de qualidade, segurança e justiça rápida e
efetiva, condições ambientais adequadas, acesso aos bens culturais da
Nação e da humanidade, meios de comunicação plurais e independentes,
proteção dos Direitos Humanos, especialmente daqueles setores mais
vulneráveis. A democratização do país passa pela ampliação da
participação social e pela reforma do Estado e de suas instituições –
Executivo, Legislativo e Judiciário, assim como pela laicidade do Estado
e da sociedade. A liberdade de expressão será assegurada e deve se
expandir, pelo estímulo ao debate, pela multiplicação de foros e de
instrumentos plurais de confrontação e de difusão de idéias.
O debate dos documentos que venham a ser produzidos para o Quinto
Congresso, a partir de uma pauta que reflita as preocupações até aqui
apontadas, e outras que sejam suscitadas, deve se fazer de cara à
sociedade brasileira. O fato de ser um Congresso partidário – de uma
parte do país, portanto – não pode permitir que se erga uma muralha
entre o PT e o conjunto da sociedade brasileira. O partido encontrará os
meios de fazer com que nossos debates internos − em meio ao Processo de
Eleição Direta (PED) de nossas direções − sejam permeados pelas vozes
da sociedade que nos têm acompanhado há décadas, apoiando-nos ou
exercendo a crítica construtiva de nossas idéias e ações.
O Congresso deverá dedicar um espaço importante para analisar a
situação e as perspectivas do Partido dos Trabalhadores. Impõe-se não só
a realização de um profundo balanço de nossa trajetória, como um
movimento que fortaleça nossas definições programáticas e nossa
capacidade de intervenção na conjuntura. Paradoxalmente, ao mesmo tempo
em que obtinha sucessivas vitórias eleitorais e realizava importantes
reformas em nossa economia e sociedade, o PT perdeu densidade
programática e capacidade de mobilização sobre setores que nos
acompanharam nos primeiros anos de nossa existência. O debate interno
está rarefeito. Sofremos um processo de burocratização e assistimos a um
debilitamento de nossas instâncias coletivas de direção. Importantes
conquistas democráticas de nossa vida partidária – como o direito de
tendências ou a participação de mulheres nas direções – ainda convivem
com sinais de perda de vitalidade de nossa vida interna. Muitos
“setoriais” estão afastados das problemáticas e dinâmicas reais dos
segmentos que pretendem representar. A despeito da imagem altamente
positiva que nossos Governos e nosso Partido têm no mundo, ainda não
ocorreu um efetivo movimento de internacionalização do PT, absolutamente
necessário neste momento de profunda crise que atravessa a economia
mundial e, com ela, a política e as idéias de esquerda. Esse movimento
deve comprometer o conjunto do Partido.
A dissolução da União Soviética e do chamado “campo socialista”, a
deriva da Socialdemocracia, os rumos seguidos pela República Popular da
China, para só citar alguns fenômenos maiores das últimas décadas,
lançaram uma profunda incerteza sobre o ideário socialista. Nascido nos
anos em que essa crise começou a se fazer mais evidente e herdeiro de
tradições democráticas e libertárias, o PT resistiu aos descaminhos
desses projetos socialistas, não sendo constrangido pela aparentemente
irresistível ascensão do neoliberalismo ou pelo proclamado “fim da
História”. Ao contrário, fizemos a História andar em nosso país. Mas,
ainda que tenhamos dado respostas práticas e alternativas aos desafios
do presente, não fomos capazes de construir nem mesmo um esboço de um
novo e abrangente ideário de esquerda – socialista e democrático – que
pudesse abrir perspectivas àqueles que sofrem a orfandade de uma
generosa utopia, sobretudo naquelas partes do mundo onde a crise
econômica e social ceifa esperanças; onde a política é substituída por
arranjos tecnocráticos, que produzem desilusão e impotência. Dar, pelo
menos, alguns passos para reinstaurar o socialismo como horizonte
político, ajudar a reconstruir uma cultura política de esquerda, aí
estão tarefas a que devemos nos dedicar em nosso Congresso.
Brasília, 8 de dezembro de 2012
Diretório Nacional do Partido dos Trabalhadores
Diretório Nacional do Partido dos Trabalhadores
Fonte: http://www.pt.org.br/noticias/view/diretorio_nacional_convocacaeo_a_militancia_do_pt_para_o_5o._congresso
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