terça-feira, 13 de maio de 2014

Sim, eu conheço Sérvolo de Oliveira e Silva.

Sim, eu conheço Sérvolo de Oliveira e Silva.

Em meados de 2013, conheci o companheiro Sérvolo Aimoré-Botocudo de Oliveira. Gente boa, e de personalidade forte, vinda do sul pra contribuir com a militância sindicalista, cutista, do Rio Grande do Norte.

Desenvolveu um amor por Natal como a imensa maioria dos que nos visitam e, num repente, resolveu firmar-se nas terras de Poti. Dado sua longa trajetória no PT, logo se aproximou das discussões do PT/RN e ingressou no “PT pela Base”, uma de nossas tendências internas.

Ao longo de um intenso segundo semestre, dividi com Sérvolo algumas tarefas partidárias. Participamos juntos da Comissão de Organização Eleitoral do PED 2013, o que nos aproximou sobremaneira. Além de uma “aliança” política, simbolizada pela parceria que a tendência dele e o coletivo do qual faço parte mantêm no campo “Ousar Lutar, Ousar Vencer”, desenvolvi com Sérvolo uma amizade verdadeira.

Sozinho na cidade, recém-chegado e em adaptação, tive o prazer de recebê-lo várias vezes em minha casa, privando-nos da convivência com minha família, esposa, filha, mãe, cunhada, sogra e amigos, todos que sempre foram tratados com muito respeito e gentileza pelo Sérvolo. Todos gostamos dele, embora seu jeitão meio rude, às vezes. Todos gostamos da macarronada de camarão ao molho de manga-rosa que ele inventou lá em casa.

No fatídico 15 de novembro de 2013, também fiquei transtornado com o nível de baixaria de sua excelência Barbosa I, ao aproveitar-se do simbolismo da data para marcar o grande ato de seu teatro, a prisão de nossos companheiros, réus da AP 470, condenados por antecedência pela mídia-monopolizada do Brasil. Mas deixemos de lado a questão do desfecho, do criador e da criatura, o que importa neste momento é falar do Sérvolo. Também fiquei indignado naquela noite e também postei algumas coisas na internet, expressando minha indignação.

Diferente de Sérvolo, respirei, contei até dez e pensei em expressar minha indignação com clareza e com esmero. Naquela mesma noite, vi a postagem do Sérvolo. Li, mas não curti. Aliás, apenas cinco pessoas curtiram, ninguém compartilhou. Achei que ele tinha sido nada respeitoso, muitíssimo irascível e até racista, o que me surpreendeu especialmente, dadas sua aguerrida militância no combate ao racismo e sua identidade negra, inconteste. Se levarmos em conta que uma das boas sugestões que Sérvolo deu ao vereador Fernando Lucena foi a instituição do feriado municipal no Dia da Consciência Negra, 20 de novembro, é bastante estranho que esse mesmo cara aja com racismo. Mas Sérvolo foi infeliz nas palavras.

No dia seguinte, não apenas eu, mas diversos outros companheiros petistas que viram a postagem sugeriram que ele se retratasse, esclarecesse o conteúdo de sua mensagem. Mas, como já disse, a personalidade do Sérvolo é forte e ele não quis parecer que estava “voltando atrás”. Assegurava que não havia feito nenhuma ameaça, o que é facilmente percebido por quem lê o texto da postagem, uma vez que o que ele faz é “especular” sobre a morte de Barbosa, “prevendo” que o ministro viria a ser traído pelos seus atuais parceiros. Defendia ainda que não havia racismo. E só se arrependia de ter envolvido a mãe do ministro em seus xingamentos. Não escutou ninguém, manteve a postagem no ar, resolveu encarar o debate.

Meses se passaram. A vida seguiu. No carnaval de 2014, o coração falou mais alto e Sérvolo resolveu deixar nossa cidade com destino aos braços de sua amada companheira, Fernanda Marinho, que permanecia em Foz. Voltou para seu grande amor e para o convívio de seus irmãos de religião. Voltou ao seu terreiro, no Paraná. Resolveu dar um tempo na militância política e cuidar um pouco da vida. Como amigo, apoiei sua decisão.

De novo, meses se passaram. Em 24 de abril, chega uma intimação da Polícia Federal, na sede do PT, convocando Sérvolo para comparecer em audiência e prestar esclarecimentos. Uma vez que estava afastado, morando em outro Estado, a funcionária do PT/Natal simplesmente digitalizou a intimação e lhe remeteu, via e-mail. Não comunicou a mais ninguém.

Fiquei sabendo através de um e-mail do próprio Sérvolo, no qual mencionava a citação, nos dizia que iria procurar se informar do motivo da intimação e comunicava aos dirigentes sua intenção de se desfiliar do PT. Mais uma vez, como amigo, o apoiei. Mesmo na correria do dia-a-dia, sem manter contato com Sérvolo, dava pra ver no meu feed no face, a sua felicidade no reencontro com a Fernanda e com o candomblé. Logo, achei natural a sua desfiliação.

Eis que, dias depois, surge essa “bomba” nas folhas da Veja. O “criminoso” Sérvolo havia sido identificado pela Polícia Federal. Nos blogs, notícias várias, dando conta de seu “crime” e de sua fuga. Fiquei pasmo.

Não que eu defenda que ele não deva ser responsabilizado pelos seus atos e declarações, absolutamente. Como adulto, deve e vai responder, de cabeça erguida, por tudo o que disse. Mas, nunca antes na história desse país, eu tinha visto alguém xingar um político e ser linchado desse jeito. E olha que o post não teve nem uma dezena de interações. Seria interessante se a moda pegasse, se procurassem no Facebook por postagens agressivas, violentas, machistas e preconceituosas contra Lula e Dilma, por exemplo, e se buscassem responsabilizar seus autores. Arrisco-me a dizer que surgiriam, pelo menos, uns “nove mil e quinhentos” novos inquéritos, mas tenho certeza que nenhuma linha na Veja.

É claro que a Veja manipulou ao máximo a reportagem para vender a imagem de um monstro ameaçando um cordeiro. Foi curioso acompanhar isso tão de perto, ver um caso tão próximo de massacre de imagem por interesses políticos. Só me deu ainda mais certeza de que o que o Paulo Henrique Amorim fala da Veja não é exagero.

Ao leitor e à leitora, um conselho: reflita sobre as informações que você recebe, elas sempre são parciais e nem sempre guardam compromisso com a verdade dos fatos. Se me permitirem outro: cuidado com o que dizem e escrevem, principalmente nos momentos de emoção; tentem ser o mais claro possíveis, não deixem muita brecha para interpretações interessadas. Ao meu amigo Sérvolo uma palavra: força. Força para enfrentar o linchamento moral da mídia golpista; força para encarar a responsabilidade por suas palavras mal colocadas; força para conviver com a covardia dos fracos.

Oxalá Sérvolo terá a toda-a-força-do-mundo para não sucumbir diante da perseguição. Para provar sua inocência, no que é inocente. E muita humildade para responsabilizar-se pelo seu erro. Mais uma vez, como seu amigo, lhe dou o meu apoio e a minha solidariedade.

Natal-RN, em 11 de maio de 2014.

Marcos Aurélio
Militante do coletivo petista Revolução Democrática

Fonte: https://www.facebook.com/MarcosAurelioBr 

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