sexta-feira, 19 de abril de 2013

Estudantes negros tem mais dificuldades

Duas pesquisas da Universidade de São Paulo indicam que Alunos negros têm maior possibilidade de fracassar na Escola do que os brancos. Para os pesquisadores o menor êxito dos negros é resultado de condições socioeconômicas. Contribuem também fatores culturais. Um deles é o preconceito desenvolvido por Professores. Pequena parte deles acredita que os Alunos negros terão, naturalmente, desempenho pior do que os brancos.

O conjunto de fatores determina que, quando os estudantes chegam ao 6º ano do Ensino fundamental, 7% dos Alunos brancos tenham mais de dois anos de atraso Escolar, e entre os negros, o indicador chega a 14%. Os números são apresentados no artigo Fracasso Escolar e Desigualdade do Ensino fundamental da pesquisadora Paula Louzano, publicado no relatório De Olho nas Metas de 2012, lançado pelo movimento Todos Pela Educação.


O artigo é baseado no questionário socieconômico da Prova Brasil 2011, aplicada nacionalmente e respondido por 2,3 milhões de Alunos do 5º ano. Dos Alunos que responderam à questão de reprovação ou abandono da Escola, um terço havia passado pela situação de insucesso na Escola. Desses, 43% se autodeclararam pretos, 34% pardos e 27% brancos, segundo a denominação adotada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.

Paula Louzano afirma que os números gerais são alarmantes e o cenário se agrava mais para alguns grupos sociais. “A chance de isso [repetência ou abandono] acontecer não é distribuída igualmente entre grupos. Alguns tem processos mais tortuosos, o que está ligado também ao nível socioeconômico. A desigualdade que marca o Brasil se reproduz no sistema de Educação”, diz a pesquisadora.

No Norte e no Nordeste, a probabilidade de um Aluno preto repetir o ano ou abandonar a Escola é respectivamente 53% e 52%. Para os Alunos pardos, o índice chega a 47% e a 45%. Nas mesmas regiões, a possibilidade de fracasso entre Alunos brancos é 46% na Região Norte e 44% na Região Nordeste. O Sudeste apresenta os menores índices nacionais, 36% para os Alunos pretos, 27% para os pardos e 22% para os brancos.
A também pesquisadora Marília Carvalho faz pesquisas qualitativas. Segundo ela, é preciso esclarecer que o fracasso Escolar não é do Aluno, mas sim da Escola que não foi capaz de dar ao estudante o nível de aprendizado e desempenho esperado para o período. Durante as pesquisas, ela observou que a cor autodeclarada pelo estudante está relacionada também ao seu desempenho.

O processo de declaração diz respeito a autoimagem que a pessoa tem. No conjunto da sociedade, quanto mais Escolarizada, com maior renda, a pessoa é clareada. O processo ocorre na Escola. Quando as crianças vão bem, elas são clareadas, tanto para si mesmas quanto para Professores e colegas”, diz Marília Carvalho.

Ela acrescenta que os próprios Professores declararam que nunca tiveram a oportunidade de discutir questões raciais nem durante a formação, nem no espaço coletivo da Escola. “Relações de racismo marcam a nossa sociedade. As crianças negras têm que enfrentar mais esta dificuldade na Escola, têm que se afirmar a todo momento e gastam parte da energia que deveria ser voltada ao aprendizado para se defender”.

Meninas têm mais chance de sucesso na escola do que os meninos

Os meninos são mais propensos a repetir o ano ou abandonar a Escola do que as meninas. Eles têm, em média, uma probabilidade 12% maior de fracasso Escolar do que as meninas. Segundo a pesquisadora Paula Louzano, as meninas geralmente têm uma maneira de portar-se mais alinhada com a cultura Escolar, com o que se espera dos estudantes. Ela explica que as Escolas esperam que os estudantes “prestem atenção nas aulas, sejam calmos, o que se aproxima mais do comportamento feminino. Os meninos geralmente são vistos como agressivos, difíceis, pelos Professores”, diz.

As conclusões da Professora da Universidade de São Paulo são resultado de levantamento feito com base nos dados do questionário socieconômico da Prova Brasil 2011. O questionário do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira foi aplicado em todo o país e respondido por 2,3 milhões de Alunos do 5º ano do Ensino fundamental. Ela escreveu o artigo Fracasso Escolar e Desigualdade do Ensino fundamental, publicado no relatório De Olho nas Metas de 2012, do movimento Todos Pela Educação.

As diferenças de probabilidade de fracasso variam entre as regiões brasileiras e entre a cor da pele dos estudantes. “Em termos absolutos, os meninos pretos – seguindo a denominação adotada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – representam o grupo mais vulnerável ao fracasso Escolar, em todas as regiões e em todos os níveis de Escolaridade dos pais”, diz Paula Louzano.

No Nordeste, estudantes do sexo masculino autodeclarados pretos têm 59% de chance de fracasso e, no Norte, o número vai para 59,3%. Nas mesmas regiões, a probabilidade de uma menina autodeclarada preta fracassar é 45,5% e 45,8% respectivamente. Entre os Alunos autodeclarados brancos, no Norte, os meninos têm 52,2% de possibilidade de insucesso e no Nordeste 50,9%. Entre as meninas, o índice é 38,8% e 37,5%, respectivamente. Os menores índices estão no Sudeste, onde, para meninos pretos é 42,3% e para meninas pretas é 29.8%. Meninos brancos na região têm 26,5% de chance de fracassar, enquanto as meninas brancas, 17,3%.

Outra pesquisadora da universidade, Marília Carvalho concorda com Paula Louzano, segundo a qual a postura das meninas está mais alinhada com a cultura Escolar. Marília acrescenta que os meninos sofrem uma pressão dupla. “A primeira é a da sociedade de que, para se firmar como macho, tem que ser respondão, briguento. A segunda é a da Escola, que reforça a questão. Quando os meninos são quietos, não gostam de futebol etc, a Escola estranha e isso é colocado nas reuniões de Professores”, diz.
Data de ou publicação: 31/03/13



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